30 abril 2019

[Resenha] | Até onde o amor alcança | Júlio Hermann | Faro Editorial





A obra “Até onde o amor alcança” com uma narrativa poética nos mostra de forma clara e explicativa sobre o amor. Hermann conseguiu escrever os sentimentos de uma pessoa apaixonada, suas dores, angústias, medos e desejos, mas quando temos o coração dilacerado, foi abordado por ele com tal profundidade, que pude sentir o grito preso na garganta.

Foi a minha primeira experiência lendo o autor e fiquei simplesmente encantada, pois não são muitos homens que conseguem falar sobre o amor de uma forma tão pura e real.

 “A minha cruz tem sido justamente brigar com esse monte de pensamentos dentro da minha própria cabeça. O desafio é colocar cada um dos meus eus para conversar de uma maneira amistosa, que não me dilacere de vez. Como fazer para alcançar essa maturidade emocional?”

No início de cada capítulo, o autor nos presenteia com músicas maravilhosas, e que nos leva a viver cada emoção sentida. Quando temos a alma despedaçada o primeiro desejo que temos é o de morrer. Sentimos o ar faltando, o coração doendo, os pulmões sendo comprimidos e a tristeza lacerante nos invadindo, mas é necessário se reinventar.

O ato de redescobrir-se não é uma tarefa fácil e é preciso deixar muita coisa para trás. A saudade vai bater em sua porta, as dúvidas, o medo, a culpa, a raiva e aprendemos a colocar amor em tudo que formos fazer. Não devemos ter medo de amar e sofrer, pois temos que ter medo de não ter amor dentro do peito. Amar é algo sublime!

“O ponto focal da minha bússola mudou de direção depois de você. Não existe mais norte geográfico se ele não for o mesmo caminho que leva para a sua casa.”

Júlio nos convida a seguir em frente, perdoar, assumir erros, sentir raiva, ficar vulnerável e acima de tudo nos mostra que o tempo cura as feridas da alma. Com o tempo a bússola da nossa vida consegue seguir a direção que queremos e aí seremos livres novamente para amar e ser amado.

Creio que já está se tornando clichê quando cito sobre a qualidade da diagramação da Faro, porém é impossível não falar de algo tão extraordinário. O livro do Júlio com suas ilustrações falam por si só.

Eu não sei responder até onde o amor alcança, mas a obra alcançou meu coração e minha fé. Não existe nada mais nobre do que rezar por alguém que te feriu e Júlio resgata esse ato sublime. Leiam e se apaixonem!




23 abril 2019

[Resenha] | Nas colinas de Dorsetshire | Amanda Bonatti | Editora Coerência

RESENHA POR KETHLYN GALDINO


Na obra ‘Nas colinas de Dorsetshire’ me deparei com a jovem Dolores, apelidada de Lolla, uma moça inteligente e a frente do seu tempo que veio de uma família pobre. Ela tem um pai já idoso que luta para continuar sustentando o lar, um irmão que a apoia, uma irmã mais nova sonhadora e uma mãe que só deseja ver suas filhas casadas.

Lolla não tem nenhuma pressa para se casar, pois gosta da vida que leva, da vila em que mora e da simplicidade de seus dias. Nunca foi uma garota sonhadora e ambiciosa, não desejava morar em uma mansão ou ter um marido rico, como sua irmã mais nova Audrey sonha em ter.

Recentemente os dias de Lolla têm sido nublados devido a preocupação com sua amiga Helen que estava longe. Seu coração apertava e ela sabia que algo estava acontecendo com Helen. Dolores confirma sua suspeita com a carta que acabara de receber da amiga, explica que estava definhando sozinha em uma mansão já que o marido fora viajar e a deixou lá.

Infelizmente, essa não seria a única preocupação de Lolla. A família havia recebido uma visita, o Senhor Boorman, um homem rico e conhecido da família. Ele estava disposto a oferecer um emprego ao seu pai em House Flowers, a casa de campo de Boorman, só que o convite da oferta de emprego foi além do que seus irmãos poderiam imaginar. James não estava apenas oferecendo um emprego e um novo lar e sim uma troca. É fácil imaginar qual tipo de troca, né? Mesmo assim não irei falar, haha!

Não só o senhor dono daquela propriedade tinha reais intenções com a oferta de emprego, assim, como os pais dos jovens cresceram os olhos e o lucro passou a ser prioridade. Apesar do esforço as ações estavam contrárias a serem benéficas, elas seriam como uma faca a ser cravada no peito de Lolla.

A trama gira em torno de Dolores que é contra o casamento sem amor, uma jovem que não vive de sonhos e sim de realidade, que escreve em seu diário dando ao seu verdadeiro eu uma forma de se libertar de todos os obstáculos.

“Não consigo deixar de pensar sobre o porquê de ele se importar em me dar qualquer conselho, e se estou com uma aparência tão desesperada para ser motivo de pena. Oh, não desejo despertar a compaixão de ninguém”.

Essa forte protagonista vai se apaixonar e aprender o que é amar, vai desafiar seus pais e o mundo machista para ser feliz. Irá dar de cara com a amargura e tristeza antes de atingir a felicidade, porém Lolla vai fazer com que você leitor torça por ela e lute a cada capítulo para que essa história se conclua com um final feliz.

Em uma aventura romântica, autêntica e diferente Bonatti conseguiu me surpreender. O romance histórico é muito bem escrito, com uma ambientação perfeita e conquista qualquer leitor. A Editora Coerência está de parabéns pela linda capa e diagramação de excelente qualidade. Mega indicado!




16 abril 2019

[Resenha] | A garota desaparecida | Lisa Gardner | Editora Gutenberg




A obra “A garota desaparecida” nos conta a história da estudante Flora. Ela passou 472 dias vivendo um verdadeiro pesadelo e descobriu da pior forma o que é de fato a maldade humana. Após cinco anos e com marcas profundas no seu íntimo, a jovem tenta voltar a ter uma vida normal, porém ela desaparece novamente e a detetive D. D. Warren entra em cena e descobre que tudo pode ser ainda pior.

A história já começa densa e com uma realidade nua e crua. Você leitor não seria capaz de imaginar o que Flora passou nesses 472 dias e para complicar a nossa linha de raciocínio todos se tornam suspeitos.   

“Você está sozinha na caixa. É assustador. É esmagador. Horrível. Principalmente porque você ainda não entende o quanto tem motivo para sentir medo”.

A escrita da Lisa Gardner é intensa e Harlan Coben a considera uma das melhores autoras de suspense. A forma na qual ela abordou todo o sequestro de Flora foi visceral. Algumas vezes me perguntei se de fato a jovem estava sequestrada ou se seria problemas de ordem mental.

"Quer uma definição melhor, uma visão mais profunda de mim mesma. Sou uma justiceira? Uma aberração autodestrutiva? Ou uma entusiasta da autodefesa? Talvez eu seja tudo isso. Talvez eu não seja nada disso. Talvez eu seja uma garota que há muito tempo achava que o mundo era um lugar brilhante e feliz. E que agora... sou uma garota que desapareceu anos atrás. E ficou longe de casa e de si mesma por tempo demais”.

O livro aborda temas difíceis e polêmicos, como: sequestro, crimes, violência física e psicológica, estupro, tortura, lavagem cerebral, cárcere privado, relações familiares, segredos e outros. Até que ponto alguém que passe por uma situação de privação consegue levar uma vida normal? Como sobreviver 472 dias vivendo em condições inimagináveis?

Flora relata como sobreviveu dentro de uma caixa de pinho em forma de caixão e chega a doer o coração de imaginar tamanha maldade. Somos livres e ao perdermos coisas teoricamente simples como o de direito de ir e vir, privação da luz do sol, o controle do próprio corpo, falta de higiene pessoal e outros fatores, nos damos conta de como é bom viver em liberdade. A jovem chegou ao fundo do poço e ainda nos momentos de clareza conseguia pensar em algo bom, pois as raposas mesmo que distantes a ajudavam a crer em um futuro.

A capa está incrível e completa toda a narrativa, pois podemos sentir pelo olhar a dor, desespero e um grito preso na garganta. Podemos odiar quem nos alimenta e nos dá a mínima dignidade? Leia e tire a sua própria conclusão! 




04 abril 2019

[Resenha] | A mulher com olhos de fogo | Nawal El Saadawi | Faro Editorial




O livro “A mulher com olhos de fogo” aborda o relato verdadeiro de uma mulher que espera sua execução em uma prisão no Egito. A escritora estava fazendo uma pesquisa sobre neurose em mulheres egípcias e conheceu a história de Firdaus, que após muita insistência resolveu narrar toda a sua vida em apenas um único encontro.

“Sempre que eu abria um jornal e me deparava com a fotografia de um desses homens de grande importância eu cuspia nela. Eu sabia que estava apenas cuspindo num pedaço de jornal que poderia usar para forrar as prateleiras da cozinha. Mesmo assim eu cuspia neles, e depois deixava o cuspe secar no lugar.”

Firdaus relata a sua infância pobre, a falta de amor dos pais, sua mutilação genital, o abuso sofrido pelo tio, casar adolescente com um homem idoso, os espancamentos diários, a prostituição e o assassinato de um dos seus agressores por legítima defesa, a prisão e por fim a sentença da execução.

Apesar do relato ter ocorrido em 1973, caiu como uma luva nos dias atuais. As mulheres lutam diariamente pela conquista da sua independência, igualdade e por darem voz as suas vontades. O mundo ainda é extremamente machista e infelizmente, é cultural no mundo árabe que as mulheres sejam submissas. E as que resolvem lutar pelos seus direitos correm o grande risco de encontrar a morte.

“E se uma pessoa alcança a verdade, isso significa que ela não sente mais medo da morte. Porque morte e verdade são similares em um aspecto: quem deseja confrontá-las necessita de grande coragem. E a verdade é como a morte, já que também mata”.

A obra tem poucas páginas, porém toda a narrativa possui uma alta carga emocional. É devastador, cruel, impactante, forte e único. Que mulher corajosa, pois enfrentou todas as adversidades da vida lutando bravamente e crendo em dias melhores, dias de glória.

Firdaus foi uma mulher que encontrou no seu limite algo simplesmente maravilhoso: sua liberdade! Super recomendado!