A obra “A Trança” nos conta a história de três
mulheres, três vidas e três continentes. O elo principal é a mesma sede de
liberdade. Conheceremos a Smita que é membro da casta mais inferior da Índia. No
Canadá, a jovem advogada Sarah e que descobre estar gravemente doente. Por fim,
na Sicília, Giulia que trabalha como ajudante na oficina do pai. Mesmo sem
saber o destino às conectam e elas decidem lutar contra ele. Será que elas
conseguirão vencer os obstáculos?
A escritora Laetitia Colombani escreveu “A
Trança” com tanta fluidez e sensibilidade que simplesmente fiquei apaixonada
por toda a narrativa. Na França a obra vendeu mais de 1,4 milhão de exemplares
e emocionou leitores de mais de 30 países. Ele está sendo adaptado para o
cinema e sei que será um sucesso de bilheteria.
A personagem Smita é uma intocável e o seu
maior sonho é ver a filha escapar da condição miserável em que vivem e ter
acesso à educação formal. Giulia ajuda o pai, porém quando ele sofre um
acidente a mulher assume o comando. Para piorar a situação da família, ela percebe
que o negócio está à beira da ruína. Já Sarah é uma renomada advogada, que
possui o objetivo de se tornar chefe no escritório em que trabalha, porém o
destino lhe prega uma peça ao descobrir uma doença grave. As três personagens
são fortes, marcantes, determinadas e que lutam por uma vida cheia de
esperança.
“De sua parte, já aceitou essa sorte como uma
cruel fatalidade. Mas sua filha eles não vão ter. Isso ela promete a si mesma
ali, diante do altar dedicado a Vishnu, no centro do barraco escuro onde seu
marido já está dormindo. Não, Lalita eles não vão ter. Sua revolta é
silenciosa, inaudível, quase invisível.”
“Ao afastar de si o cobertor, sente como uma
vertigem. Será que não é insensato empreender essa viagem. Não fosse ela tão
revoltada, tão indócil, não fosse essa borboleta tremulando em sua barriga,
então poderia desistir, aceitar seu destino, como faz Nagarajan, como fazem
seus irmãos dalits. Poderia voltar para a cama e esperar o amanhecer, em um
torpor sem sonho, como quem espera a morte.”
“Não é ela que está doente, a sociedade
inteira é que precisa ser tratada. Essa sociedade que vira as costas para os
mais fracos, que deveria proteger e acompanhar, como a manada deixa para trás
os velhos elefantes, condenando-os a uma morte solitária.”
As temáticas abordadas na obra são densas e
necessárias, pois retrata a fé, religião, família, esperança, solidariedade, resiliência,
machismo e pontos modernos que leva o leitor a comparar o que elas passam com o
que as mulheres da nossa sociedade enfrentam. Segundo o dicionário a palavra “trança”
quer dizer punhado de fios ou de cabelos, divididos em três e entrelaçados.
Assim, são as nossas protagonistas, diferentes e que se unem no mesmo grito
libertador.
A edição da Intrínseca está belíssima. Capa
dura com pintura trilateral em dourado, diagramação perfeita, fonte confortável
para leitura e excelente tradução de Dorothée de Bruchard.