08 julho 2019

[Resenha] | Do que estamos falando quando falamos de estupro| Sohaila Abdulali | Vestígio



Em “Do que estamos falando quando falamos de estupro” aborda a história de Sohaila Abdulali que sobreviveu a um estupro coletivo quando tinha 17 anos e perante sua indignação resolveu escrever uma coluna sobre a percepção acerca do estupro e de suas vítimas para uma revista feminina. Após trinta anos, seu artigo voltou com força total e viralizou. Ela escreve outro artigo para o New York Times sobre o processo de cura de um abuso sexual.

Sohaila Abdulali nasceu em Bombaim, na Índia e as regras do país para casos de estupro são quase que nulas para as vítimas, pois a grande maioria não tem voz e a polícia ainda julga as mulheres estupradas. E ela foi estuprada nos Estados Unidos logo após mudar com a família. O estupro foi brutal, porém ela é uma mulher forte e transformou a sua dor em um grito de não aceitar a violência como algo normal, é preciso falar.

Abdulali nos conta como ela foi estuprada, os relatos das vítimas de estupro, fala sobre a cultura do estupro e os rótulos impregnados por uma sociedade preconceituosa.

“O estupro drena a luz. Quero que volte a entrar alguma luz. Não tenho respostas, mas espero iluminar pelo menos um pouco algumas questões e suposições que carregamos conosco. Precisamos falar sobre estupro, e precisamos examinar de que maneira estamos falando sobre estupro”.

O tema abordado na obra é cruel, duro, forte, impactante, porém real. Infelizmente, em pleno século XXI muitos julgam as mulheres estupradas com o rótulo carimbado na testa: CULPADA! O nosso corpo é algo inviolável e ninguém tem a autoridade de tocar qualquer que seja a parte sem o consentimento. Não importa se é o marido, namorado, chefe, autoridade religiosa, irmão, tio ou pai. Também não importa se uma jovem estava na balada, com roupas curtas ou se é prostituta. O outro precisa entender quando a outra parte diz NÃO. O mesmo vale para o sexo oposto, pois muitos homens têm sofrido abusos sexuais. Chega de acharmos que é normal a cultura do estupro.

A escritora nos dá uma lição de sabedoria, superação, força e cura com o livro, pois ela possui um olhar generoso e sem julgamentos para com as vítimas. Fiquei revoltada ao ler sobre os casos de estupro no Kuwait devido ao fato da vítima ter que se casar com o estuprador para ele não ser penalizado. Eu cheguei a pensar que era ficção e fiquei boquiaberta quando descobri que é um fato. Um livro para ser lido por homens e mulheres, pois o que você acha que estamos falando quando falamos de estupro?