Shobha Rao em seu romance de estreia conseguiu dilacerar meu coração e reconstituí-lo na mesma proporção. Ela migrou da Índia para os Estados Unidos com apenas sete anos. Trabalhou durante anos numa organização de apoio a mulheres vítimas de violência doméstica, e aprendeu lições riquíssimas, que apenas aprendemos na escola da vida.
“Ela era a parte que havia absorvido a sujeira e o desgaste. A que fora castigada pelo sol. A que tapava, como se fosse uma mão aberta, toda a vivacidade.”
As protagonistas moravam em uma aldeia rural da Índia e fiquei chocada pela forma na qual as mulheres eram tratadas. Sendo bem sincera até sacos de lixos teriam mais respeito, meu Deus! Mulheres como máquinas de reprodução, casamentos arranjados, mutilação, sociedade patriarcal, violência física/psicológica, machismo exacerbado e zero poder de opinar. Tudo flui na aldeia com uma naturalidade assombrosa, como pode isso ser normal?
Poornima e Savitha são sobreviventes, fortes, iluminadas, determinadas, inteligentes e mesmo com os acontecimentos horrendos que elas passam, nunca desistiram do laço profundo da amizade. Separadas pelas circunstâncias da vida, as mulheres creem em dias melhores. Quanta resiliência!
A ambientação está tão perfeita que é quase possível sentir os cheiros, ouvir os barulhos, comer siris com as personagens, observar o sol brilhando e o tato eu usaria para abraçá-las profundamente. A narrativa é como uma prosa lírica, emocionante, avassaladora e liberadora.
Por fim, a obra foi uma das melhores que eu li em 2022.
É o verdadeiro tapa com luva de pelica, pois reclamamos por tão pouco.
Que você tenha a força, coragem e determinação de Poornima/Savitha. O meu desejo é que o sol invada a sua casa diariamente!
Que você tenha a força, coragem e determinação de Poornima/Savitha. O meu desejo é que o sol invada a sua casa diariamente!
