31 julho 2020

[Resenha] Arrufos: Desavenças de Amor | Caroline Salignac | Editora Portal



Os amigos Cecília Caldas e Jorge Candido fazem uma aposta: se Cecília conseguir casar Maurício Santiago, com qualquer dama até o final do ano, ele teria de se casar com Eugenia, atual melhor amiga de Cecília; mas caso ela não conseguisse casar Maurício, deveria se casar com Jorge, pois ele sempre nutriu um amor por ela.

Após um baile, organizado por Jorge, onde ele convidou apenas damas que sabia que desagradaria Maurício, a convicta Cecília decide que Amélia Monteiro é a escolha perfeita para Maurício, já que os dois têm temperamento e opiniões similares. Com uma aposta tão arriscada e muito a perder, os dois vão fazer de tudo para alcançar o objetivo, não importando o que tenham que fazer.

Amélia e Maurício começam a obra se odiando, brigam a todo o instante, o que acabou criando diálogos e cenas divertidíssimas. Os dois têm pensamentos muito parecidos sobre a abolição da escravatura. E lutam pelos seus ideais, mas cada um à sua maneira. Maurício é mais centrado e reservado, já Amélia está sempre pronta para uma batalha.

"Nada de criticar a sociedade, nem de falar sobre a condição dos escravos, nem sobre as mulheres casadas!  Não fale nada sobre a monarquia, todos que querem que o imperador fique onde está, ouviu? Homens não suportam essas conversas! Seja delicada e um pouco recatada, apenas para atraí-lo, mas nada de ficar a sós com nenhum rapaz, não quero que falem mal da minha filha! Nada de careta, Amélia!"

Outro casal que chama muita atenção na obra é Cecília e Jorge, inicialmente achei que eles seriam o par central da obra, mas conforme a história se desenvolveu fui sentindo um pouco de decepção com as atitudes dos dois. Principalmente de Cecília, como gosto de mulheres a frente do seu tempo, me senti muito decepcionada por ter uma personagem tão fútil e machista. Cecília e Amélia são contrapontos deliciosos de se observar. Acredito que a autora tenha feito isso propositalmente, para nos fazer pensar nas diferentes posturas das personagens da época.

"A Alienação feminina é incentivada pela sociedade, além da obsessão por matrimônio! Sinceramente, toda mulher deveria saber que há mais coisas entre bailes e vestidos do que pode sonhar sua vã filosofia."

Os personagens secundários na obra tiveram muito espaço, tanto que cheguei a pensar que a autora devesse desenvolver uma série com eles. Acho que seria enriquecedor se todos tivessem seu próprio romance e fizessem aparições um no livro do outro.

Como a história se passa em 1870, ainda existia a escravidão. Muito dos personagens concordam com tal prática e, poucos na obra são abolicionistas. Fiquei muito surpresa com tal proposta, pois realmente não esperava que Salignac fosse abordar tão abertamente esse tema. Amei a crítica feita sobre os homens que se diziam de "bem", mas eram escravocratas. Havia muita hipocrisia na época.

"Nunca compreenderei essa sociedade hipócrita que vai às missas aos domingos, mas defende a escravidão."

A obra foi uma grata surpresa, pois quem me acompanha aqui sabe o quanto eu sou apaixonada por romances de época. E esse livro me conquistou logo nas primeiras páginas. É um romance tão envolvente que é impossível largar até descobrir quem vencerá a aposta ou quais casais vão se formar. Eu espero que todos vocês leiam a obra.

Caroline Salignac nasceu em 1993, na cidade de Manaus. Desde pequena escrevia historietas cobertas de fantasia, mas só durante a graduação em Letras que descobriu sua paixão por coisas antigas e narrativas ambientadas no século XIX. Atualmente, faz mestrado em Letras e Artes, continua apaixonada por antiguidades, e escreve contos e romances ambientados no Brasil Imperial. Seu romance de estreia foi Arrufos: desavenças de amor.