18 setembro 2019

[Resenha] | Vozes do Joelma: os gritos que não foram ouvidos | Marcos DeBrito, Rodrigo de Oliveira, Marcus Barcelos e Victor Bonini | Faro Editorial



A obra “Vozes do Joelma” foi escrita por quatro autores brasileiros que são reconhecidos pela crueldade de seus personagens e com a apresentação de cada história do maravilhoso Tiago Toy. A narrativa foi baseada no incêndio do edifício Joelma, pois a tragédia deixou quase 200 mortos e mais de 300 feridos, além de ganhar as manchetes da época e selar o local com uma aura de maldição. Muitos mistérios assolam a história do Edifício Joelma antes mesmo da sua construção e os autores tenebrosos tentam buscar explicações dentro da loucura de cada um.

Sempre existiram boatos que o prédio fosse assombrado e o quarteto de autores uniram realidade e ficção para escreverem com maestria o livro. A primeira história é de Marcos DeBrito “Os mortos não perdoam” que narra um acontecimento real ocorrido em 1948 antes da construção do Joelma, que foi chamado “O crime do poço”, porém escrito na versão macabra do autor.

“A visão dos fantasmas vingativos da mãe e das irmãs ainda o perturbavam. O cadáver macilento de dona Berta na banheira, de Maria Fernanda aos prantos na escuridão do banheiro, e de Amélia, que tentava limpar a saia do seu vestido, o mantiveram acordado até o nascer do sol.”

A segunda história “Nos deixem queimar” é do escritor Rodrigo de Oliveira que nos apresenta Samara, uma mulher egoísta, amarga e que uso todos os artifícios para conseguir alcançar uma melhor posição em seu trabalho, mesmo que precise acusar um colega para a polícia por pedofilia. Com essa história aprendemos quem nem sempre o fim justifica os meios.

“Samara se debateu inutilmente. Com os olhos esbugalhados, injetados de terror, arranhava as mãos do intruso. Lágrimas de medo corriam-lhe pelo rosto, fazendo seu cabelo grudar na pele.”

A terceira história é do autor Marcus Barcelos “Os treze” que aborda acontecimentos antes e depois do incêndio. Foram encontrados 13 corpos em um elevador totalmente carbonizados e que acabaram se fundindo, tornando-se impossível o reconhecimento dos corpos.

“Tudo o que eu achava saber sobre vida e morte caía por terra. Episódios que desafiavam a minha compreensão, a crescente sensação de ameaça diante de inimigos desconhecidos...”.

Por fim, a quarta história é do escritor Victor Bonini “O homem na escada” que fala sobre Solange e sua família que moram no que restou do Joelma. Eu confesso que não sei era tudo alucinação ou se de fato aquelas coisas horríveis aconteciam.

“Fico sem respirar. Meus olhos reviram. Meu nariz escorre. Mas eu vou aguentar. Não vou pedir misericórdia. Vou morrer sem me rebaixar.”

A história que eu mais gostei foi a do escritor Marcos DeBrito “Os mortos não perdoam”, pois é possível compreender que nem sempre as melhores histórias são aquelas enormes e ricas em detalhes. DeBrito consegue passar toda emoção, crueldade e loucura do personagem com objetividade. Foi a história que a meu ver mais se aproximou da realidade do assustador e misterioso Joelma. A história que menos me impressionou e não fez o coração acelerar foi a do escritor Marcus “Os treze”.

A diagramação da Faro Editorial está impecável, com ilustrações reveladoras e com a capa digna de premiação, pois o brilho reflete o fogo por todo o Edifício Joelma. A participação do escritor Tiago Toy abrilhantou toda a obra com suas narrativas cruéis, densas e que nos revelaram mais que a história real nos conta. Indicado para os amantes do bom terror e suspense! Quem sabe vocês consigam ouvir os gritos que não foram ouvidos?