O
livro “A Devolvida” vendeu mais de 250 mil exemplares e é considerado um dos grandes
romances da Itália. Ele nos conta a história de uma garota que aos 13 anos foi
levada do lar abastado onde vivia para uma casa estranha e com os moradores
dizendo que eram seus pais e irmãos. Na pequena cidade todas conheciam a sua
história, pois ela foi a criança que os pais pobres “deram” a um parente que
não podia ter filhos e muitos anos depois simplesmente a devolvem sem explicação
alguma.
Eu
não conhecia a autora e foi o meu primeiro contato com a escrita de Donatella,
mas gostei da narrativa forte, dolorosa e que por algumas vezes deu vontade de
colocar a garota em um potinho e dar muito amor.
“Minha
vida anterior me distinguiu, me isolou na nova família. Quando voltei, falava
outra língua e não sabia mais a quem pertencia”.
“A
devolvida” sofre horrores em seu novo lar, pois as condições do ambiente são
precárias devido a falta de higiene, brutalidade dos pais, alimentação regrada
e por vezes restando as migalhas para a garota. Ela ganhou cinco irmãos, porém
é a irmã mais nova que a protege e a ajuda na adaptação do novo lar e a lutar
perante as adversidades da vida.
“Com
o tempo, perdi também a ideia confusa de normalidade e, hoje, ignoro de fato
qual lugar seja o de uma mãe. Isso me falta, do mesmo modo que pode faltar
saúde, proteção, certezas. É um vazio persistente, que conheço, mas não supero.
Olhar para o nosso interior dá vertigem. É uma paisagem desoladora que à noite
tira o sono e fabrica pesadelos no pouco que deixa. A mãe que nunca pedi é a
mãe dos meus medos.”
Pietrantonio
construiu um romance dramático denso e que nos leva a pensar o tamanho da dor
que “a devolvida” sentiu ao descobrir que estava sendo abandonada pela segunda
vez. O que leva uma mãe abandonar um filho? E o que levou a adotiva cometer o
mesmo ato? Pobreza, doença, falta de estudo? É possível justificar o que parece
injustificável?
Por
fim, “a devolvida” teve que reconstruir seus pensamentos, amadurecer perante a
dor, encontrar forças para prosseguir, lidar com o bullying, superar a rejeição
e é por isso que a obra é riquíssima. Eu creio que terá um segundo volume que
mostrará como a personagem seguiu a vida adulta e como ficou a sua irmã mais
nova Adriana que é uma personagem apaixonante, inteligente e dona de um humor
ácido bem peculiar. Super indico a obra e conheça quem de fato é “a devolvida”
e os seus pensamentos mais profundos!