Os
amigos Cecília Caldas e Jorge Candido fazem uma aposta: se Cecília conseguir
casar Maurício Santiago, com qualquer dama até o final do ano, ele teria de se
casar com Eugenia, atual melhor amiga de Cecília; mas caso ela não conseguisse
casar Maurício, deveria se casar com Jorge, pois ele sempre nutriu um amor por
ela.
Após um baile, organizado por Jorge, onde ele convidou apenas damas que sabia que desagradaria
Maurício, a convicta Cecília decide que Amélia Monteiro é a escolha perfeita
para Maurício, já que os dois têm temperamento e opiniões similares. Com uma
aposta tão arriscada e muito a perder, os dois vão fazer de tudo para alcançar
o objetivo, não importando o que tenham que fazer.
Amélia
e Maurício começam a obra se odiando, brigam a todo o instante, o que acabou
criando diálogos e cenas divertidíssimas. Os dois têm pensamentos muito
parecidos sobre a abolição da escravatura. E lutam pelos seus ideais, mas cada
um à sua maneira. Maurício é mais centrado e reservado, já Amélia está sempre pronta
para uma batalha.
"Nada
de criticar a sociedade, nem de falar sobre a condição dos escravos, nem sobre
as mulheres casadas! Não fale nada sobre a monarquia, todos que querem
que o imperador fique onde está, ouviu? Homens não suportam essas conversas!
Seja delicada e um pouco recatada, apenas para atraí-lo, mas nada de ficar a
sós com nenhum rapaz, não quero que falem mal da minha filha! Nada de careta,
Amélia!"
Outro
casal que chama muita atenção na obra é Cecília e Jorge, inicialmente achei que
eles seriam o par central da obra, mas conforme a história se desenvolveu fui
sentindo um pouco de decepção com as atitudes dos dois. Principalmente de
Cecília, como gosto de mulheres a frente do seu tempo, me senti muito
decepcionada por ter uma personagem tão fútil e machista. Cecília e Amélia são contrapontos
deliciosos de se observar. Acredito que a autora tenha feito isso
propositalmente, para nos fazer pensar nas diferentes posturas das personagens
da época.
"A
Alienação feminina é incentivada pela sociedade, além da obsessão por
matrimônio! Sinceramente, toda mulher deveria saber que há mais coisas entre
bailes e vestidos do que pode sonhar sua vã filosofia."
Os
personagens secundários na obra tiveram muito espaço, tanto que cheguei a pensar
que a autora devesse desenvolver uma série com eles. Acho que seria
enriquecedor se todos tivessem seu próprio romance e fizessem aparições um no
livro do outro.
Como
a história se passa em 1870, ainda existia a escravidão. Muito dos personagens
concordam com tal prática e, poucos na obra são abolicionistas. Fiquei muito
surpresa com tal proposta, pois realmente não esperava que Salignac fosse
abordar tão abertamente esse tema. Amei a crítica feita sobre os homens que se
diziam de "bem", mas eram escravocratas. Havia muita hipocrisia na
época.
"Nunca
compreenderei essa sociedade hipócrita que vai às missas aos domingos, mas
defende a escravidão."
A
obra foi uma grata surpresa, pois quem me acompanha aqui sabe o quanto eu sou
apaixonada por romances de época. E esse livro me conquistou logo nas primeiras
páginas. É um romance tão envolvente que é impossível largar até descobrir quem
vencerá a aposta ou quais casais vão se formar. Eu espero que todos vocês leiam
a obra.
Caroline
Salignac nasceu em 1993, na cidade de Manaus. Desde pequena escrevia
historietas cobertas de fantasia, mas só durante a graduação em Letras que
descobriu sua paixão por coisas antigas e narrativas ambientadas no século XIX.
Atualmente, faz mestrado em Letras e Artes, continua apaixonada por
antiguidades, e escreve contos e romances ambientados no Brasil Imperial. Seu
romance de estreia foi Arrufos: desavenças de amor.