Como curar as cicatrizes do corpo? A obra “Outro plano” nos conta a história da médica Elisa, uma mulher forte e resiliente, porém que sofre com abus0s do marido e com uma doença de pele. Ela ingressa na gu3rra para cuidar dos soldados feridos e tenta cuidar dos seus próprios fantasmas.
Já sabemos que na década de 20 as mulheres não tinham voz e a nossa protagonista contrariando as estatísticas foi a única mulher da turma a se formar em medicina. Também não podemos esquecer que no meio militar o machismo impera e a jovem não desanimava perante eles.
Eu achei o máximo que Cristiane Barausse criou personagens femininas empoderadas, decididas, inteligentes e resilientes.
“— Quando o comandante levantou o capacete sobre sua cabeça, longas mechas de cabelo castanho avermelhado caíram sobre seus ombros. Era uma mulher.”
Elisa buscou o refúgio na gu3rra, os seus traumas estavam muito presentes e ela se sentia “suja” em todos os momentos, pois a água não lavava as dores do abus0. A doença de pele marcava seu corpo e isso é retratado na capa (muitas cicatrizes).
“Novamente a sensação de asco se instalou no meu corpo. Preparei meu banho e segui meu ritual de esfregar toda a sujeira da minha pele, que na verdade só existia em minha mente.”
A vi0lencia maltrata, fere e deixa marcas avassaladoras, porém Barausse foi inspiradora ao criar essa história. Ela ecoa como um grito de liberdade! Elisa sofre de Dermatilomania (transtorno obsessivo compulsivo que provoca uma vontade incontrolável de abrir feridas na própria pele). Não é fácil se livrar da sensação de impureza, né?
“As cicatrizes que a roupa não escondia eram sempre as que incomodavam mais.”
Essa obra deveria ser lida por todos e por mais que os temas sejam densos, a lição que fica é essencial. A cura das feridas no corpo é maravilhoso, porém a cura da alma não tem preço. Leiam!
