01 julho 2023

[RESENHA] Coisas que não quero saber: uma resposta ao ensaio “Por que escrevo”, de George Orwell | Deborah Levy| @autentica.contemporanea | Tradução: Celina Portocarrero e Rogério Bettoni | Páginas: 102 | Ano: 2023 | Nota: ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️



A obra “Coisas que não quero saber” é uma resposta ao ensaio “Por que escrevo”, de George Orwell. O livro é dividido em quatro ensaios: Objetivo político, Impulso histórico, Puro egoísmo e Entusiasmo estético. Encontramos emoção, percebemos que de fato o silêncio fala mais do que mil palavras proferidas e o poder curador da escrita.

A escritora Deborah Levy é sul-africana radicada em Londres. Ela foi indicada três vezes ao Booker Prize e esse livro foi ganhador do Prix Femina Étranger 2020. Levy é singular e os seus relatos são um presente para o leitor, um grito interno libertador e com muita perspicácia. George Orwell se renderia aos pés de Deborah!

“O boneco de neve me diz: Seu pai vai ser jogado numa masmorra e depois t0rturad0, ele vai gritar a noite toda e você nunca mais vai vê-lo de novo.”

Levy reflete e também nos leva a várias reflexões, como o poder da fala feminina, o poder da escrita na luta contra a segregação racial, a imposição do silêncio, a necessidade de pertencimento, o resgate da infância, revisitar lugares e o amadurecimento.

“Eu não sabia como colocar meu trabalho e meus escritos no mundo. Eu não sabia como abrir a janela como uma laranja. Quando muito, a janela tinha se fechado em cima da minha língua, como uma guilhotina. Se aquela era minha realidade, eu não sabia o que fazer com ela.”

Essas memórias autobibliográficas são marcantes, vividas e de uma força impressionante. Elas emocionam e ecoam como um verdadeiro poema de amor em prol da literatura.

“Eu tinha dito ao chinês dono do armazém que, para me tornar escritora, precisei aprender a interromper, a projetar minha voz, a falar um pouco mais alto, e depois mais alto, e depois a simplesmente usar minha própria voz, que não é nada alta.”

Não é fácil encontrar o tom de voz ideal para ser ouvida, porém é extremamente necessário tocar a ferida das coisas que não queremos saber e fazer tudo diferente. Olhe além da vidraça!