A obra “Vozes do Joelma” foi escrita por quatro
autores brasileiros que são reconhecidos pela crueldade de seus personagens e com
a apresentação de cada história do maravilhoso Tiago Toy. A narrativa foi
baseada no incêndio do edifício Joelma, pois a tragédia deixou quase
200 mortos e mais de 300 feridos, além de ganhar as manchetes da época e selar
o local com uma aura de maldição. Muitos mistérios assolam a história do Edifício
Joelma antes mesmo da sua construção e os autores tenebrosos tentam buscar explicações
dentro da loucura de cada um.
Sempre
existiram boatos que o prédio fosse assombrado e o quarteto de autores uniram
realidade e ficção para escreverem com maestria o livro. A primeira história é de
Marcos DeBrito “Os mortos não perdoam” que narra um acontecimento real ocorrido
em 1948 antes da construção do Joelma, que foi chamado “O crime do poço”, porém
escrito na versão macabra do autor.
“A
visão dos fantasmas vingativos da mãe e das irmãs ainda o perturbavam. O cadáver
macilento de dona Berta na banheira, de Maria Fernanda aos prantos na escuridão
do banheiro, e de Amélia, que tentava limpar a saia do seu vestido, o mantiveram
acordado até o nascer do sol.”
A
segunda história “Nos deixem queimar” é do escritor Rodrigo de Oliveira que nos
apresenta Samara, uma mulher egoísta, amarga e que uso todos os artifícios para
conseguir alcançar uma melhor posição em seu trabalho, mesmo que precise acusar
um colega para a polícia por pedofilia. Com essa história aprendemos quem nem
sempre o fim justifica os meios.
“Samara
se debateu inutilmente. Com os olhos esbugalhados, injetados de terror,
arranhava as mãos do intruso. Lágrimas de medo corriam-lhe pelo rosto, fazendo
seu cabelo grudar na pele.”
A
terceira história é do autor Marcus Barcelos “Os treze” que aborda acontecimentos
antes e depois do incêndio. Foram encontrados 13 corpos em um elevador
totalmente carbonizados e que acabaram se fundindo, tornando-se impossível o
reconhecimento dos corpos.
“Tudo
o que eu achava saber sobre vida e morte caía por terra. Episódios que
desafiavam a minha compreensão, a crescente sensação de ameaça diante de
inimigos desconhecidos...”.
Por
fim, a quarta história é do escritor Victor Bonini “O homem na escada” que fala
sobre Solange e sua família que moram no que restou do Joelma. Eu confesso que
não sei era tudo alucinação ou se de fato aquelas coisas horríveis aconteciam.
“Fico
sem respirar. Meus olhos reviram. Meu nariz escorre. Mas eu vou aguentar. Não vou
pedir misericórdia. Vou morrer sem me rebaixar.”
A
história que eu mais gostei foi a do escritor Marcos DeBrito “Os mortos não
perdoam”, pois é possível compreender que nem sempre as melhores histórias são
aquelas enormes e ricas em detalhes. DeBrito consegue passar toda emoção,
crueldade e loucura do personagem com objetividade. Foi a história que a meu
ver mais se aproximou da realidade do assustador e misterioso Joelma. A
história que menos me impressionou e não fez o coração acelerar foi a do
escritor Marcus “Os treze”.
A
diagramação da Faro Editorial está impecável, com ilustrações reveladoras e com
a capa digna de premiação, pois o brilho reflete o fogo por todo o Edifício Joelma.
A participação do escritor Tiago Toy abrilhantou toda a obra com suas
narrativas cruéis, densas e que nos revelaram mais que a história real nos
conta. Indicado para os amantes do bom terror e suspense! Quem sabe vocês consigam
ouvir os gritos que não foram ouvidos?