O romance ficcional “O homem que odiava Machado de
Assis” nos apresenta uma outra face de Machado de Assis. Pedro Junqueira e
Joaquim Maria Machado de Assis são de origens diferentes, são obrigados a
conviver por alguns anos quando crianças e no futuro o destino acaba os unindo
em uma situação cômica para não dizer trágica. Do Morro do Livramento, passando
por Portugal e pelo Rio de Janeiro do final do século XIX, nasce uma grande
rivalidade pela qual vale dedicar a vida. Enquanto Machado de Assis é aclamado
como um dos maiores escritores brasileiros, Pedro Junqueira é marcado pelo azar
e pela usurpação.
José Almeida Júnior criou uma história magnífica.
Ele cita vários escritores importantes da época, a ambientação se faz presente
com maestria e o desenrolar da narrativa é tão interessante que leva o leitor a
devorar a obra.
“Cheguei à Livraria Garnier no final da tarde. Havia
uns cinco clientes folheando livros e conversando. Após o expediente, os
intelectuais costumavam se reunir na livraria para falar sobre política,
teatro, literatura e, às vezes, fazer mexericos da sociedade carioca.”
A obra é narrada em primeira pessoa sob o ponto de
vista do personagem Pedro Junqueira e é nítido o ódio que ele nutre por Machado
de Assis, pois ele não teve apenas as suas ideias roubadas, oportunidades
perdidas, mas também perdeu o seu grande amor, Carolina.
Júnior se utiliza da linguagem padrão da época com
um português muito bem aplicado. Ele também cita vários fatores históricos
importantes e acontecimentos, como: surto de sarampo, tuberculose, notícias
escritas com pseudônimos, prostituição, adultério, escravidão, Lei do Ventre
Livre, Movimentos abolicionistas, Abolição da escravatura e o mais importante a
meu ver que é o preconceito. O preconceito naquela época era tão nojento, porém
era escancarado e hoje ele é velado. Sinceramente não sei dizer qual é o
pior...
Durante a leitura senti vontade de dar “uns tapas” em
alguns personagens. Pedro Junqueira por vezes mimado e com um amor platônico por
Carolina; Machado com o seu tom irônico por vezes frio e arrogante e, Carolina
perdida no triângulo amoroso e que se encontra mais sem direção que os outros
dois.
Por fim, como amante dos livros de Machado de Assis,
o escritor José Almeida me deixou intrigada e com alguns elos da narrativa, já não
sei dizer o que de fato é real ou fictício. Não é à toa que ele é vencedor do
prêmio Sesc de Literatura e finalista do prêmio Jabuti. Será “Dom Casmurro” um
livro autobiográfico?