23 julho 2019

[Resenha] | O homem que odiava Machado de Assis | José Almeida Júnior | Faro Editorial



O romance ficcional “O homem que odiava Machado de Assis” nos apresenta uma outra face de Machado de Assis. Pedro Junqueira e Joaquim Maria Machado de Assis são de origens diferentes, são obrigados a conviver por alguns anos quando crianças e no futuro o destino acaba os unindo em uma situação cômica para não dizer trágica. Do Morro do Livramento, passando por Portugal e pelo Rio de Janeiro do final do século XIX, nasce uma grande rivalidade pela qual vale dedicar a vida. Enquanto Machado de Assis é aclamado como um dos maiores escritores brasileiros, Pedro Junqueira é marcado pelo azar e pela usurpação.

José Almeida Júnior criou uma história magnífica. Ele cita vários escritores importantes da época, a ambientação se faz presente com maestria e o desenrolar da narrativa é tão interessante que leva o leitor a devorar a obra.

“Cheguei à Livraria Garnier no final da tarde. Havia uns cinco clientes folheando livros e conversando. Após o expediente, os intelectuais costumavam se reunir na livraria para falar sobre política, teatro, literatura e, às vezes, fazer mexericos da sociedade carioca.”

A obra é narrada em primeira pessoa sob o ponto de vista do personagem Pedro Junqueira e é nítido o ódio que ele nutre por Machado de Assis, pois ele não teve apenas as suas ideias roubadas, oportunidades perdidas, mas também perdeu o seu grande amor, Carolina.

Júnior se utiliza da linguagem padrão da época com um português muito bem aplicado. Ele também cita vários fatores históricos importantes e acontecimentos, como: surto de sarampo, tuberculose, notícias escritas com pseudônimos, prostituição, adultério, escravidão, Lei do Ventre Livre, Movimentos abolicionistas, Abolição da escravatura e o mais importante a meu ver que é o preconceito. O preconceito naquela época era tão nojento, porém era escancarado e hoje ele é velado. Sinceramente não sei dizer qual é o pior...

Durante a leitura senti vontade de dar “uns tapas” em alguns personagens. Pedro Junqueira por vezes mimado e com um amor platônico por Carolina; Machado com o seu tom irônico por vezes frio e arrogante e, Carolina perdida no triângulo amoroso e que se encontra mais sem direção que os outros dois.

Por fim, como amante dos livros de Machado de Assis, o escritor José Almeida me deixou intrigada e com alguns elos da narrativa, já não sei dizer o que de fato é real ou fictício. Não é à toa que ele é vencedor do prêmio Sesc de Literatura e finalista do prêmio Jabuti. Será “Dom Casmurro” um livro autobiográfico?