A
obra “A casa dos pesadelos” aborda a história de Tiago, que dez anos após ter
ficado cara a cara com uma assombração, concorda em visitar sua avó e voltar à
mesma casa na qual os seus piores pesadelos se mantém conflituosos em sua mente.
Ele é um adolescente e pretende provar que aquela criatura monstruosa que o
perseguira na infância não passava de fruto da sua cabeça, apenas coisas de
criança.
Tiago
teve uma transição entre a infância e adolescência bem difícil, pois se tornou
introspectivo, frio e sua relação com sua mãe Laura era complicada. Ela nunca
acreditou nos acontecimentos narrados pelo filho na época e achava que o menino
tinha problemas psicológicos. Já o irmão caçula insistia perguntar o que Tiago
via na casa da sua vó para ter tanto medo de voltar, e o jovem ficava
incomodado com o fato.
“Não
tem nada! Laura fez questão de inibir de imediato qualquer interpretação
mirabolante vinda da cabeça do mais novo. Acontece que o seu irmão começou com
umas histórias quando tinha a sua idade e não teve cristo que as tirasse da
cabeça dele”.
Infelizmente,
quando ele e sua família chegam ao velho casarão coisas misteriosas começam a
acontecer, como: barulhos noturnos, restrição para entrar no quarto de seu
falecido avô e a figura monstruosa se torna real para Tiago. Agora ele precisa
encarar os seus pesadelos e proteger Bruninho daquela figura medonha, pois a
história não pode se repetir com o seu irmãozinho.
DeBrito
consegue com maestria deixar a história envolvente, os flashbacks de Tiago
criança são fundamentais para entendermos os mistérios que assolam o casarão, a
construção dos personagens e a maravilhosa riqueza nos detalhes transformam a
obra em um suspense lacrador.
“Os olhos fundos, que o encaravam como se velassem seu sono,
ficavam cavados num rosto completamente enrugado. No lugar dos dedos da mão, o
que haviam eram dentes amarelados que queria mordê-lo. E a boca, toda
desdentada, se escancarava, querendo devorá-lo enquanto ele dormia!”.
O
que falar da diagramação, capa e ilustrações da Faro Editorial? Simplesmente o conjunto da obra é singular! O começo de cada capítulo possui ilustrações representativas e a narrativa mostra os dias atuais - folhas normais - e o passado - folhas laranja. A jogada de cores ficou sensacional! Parabéns aos envolvidos no processo de criação e em especial ao ilustrador Ricardo Chagas pelas ilustrações que deram o devido toque de suspense/terror.
Por
fim, os terríveis segredos do passado são revelados de uma forma nua e crua, e
o final foi arrebatador. Eu já havia desvendado o mistério, entretanto a forma
na qual Marcos DeBrito nos apresenta cada cena é de deixar qualquer um de
queixo caído e o desejo de querer ler mais e mais. Nem todos os leitores
conseguiram entender os reais motivos que Marcos deixou a obra com o final
aberto, porém tudo tem uma explicação plausível.
O
autor na obra anterior “O Escravo de Capela” conseguiu transformar uma lenda do
folclore em algo grandioso e é por essa questão que muitos não conseguem
compreender a essência da obra “A casa dos pesadelos”, pois seu vocabulário é
refinado, o estudo histórico excelente, a narrativa ímpar, a descrição dos
objetos e cenas completas e a objetividade proposta digna de uma cineasta.
Creio que a obra não seja indicada para pessoas com a mente fechada, que curtem
apenas romances floridos e que gostam de tampar o sol com a peneira. O
assunto abordado é real, atual e pode acontecer na casa de qualquer família. Um
alerta gritante que não precisa de fechamento para o recado final.